Os livros que eu mais leio como forma de entretenimento são, sem dúvida, os YAs. Mas de vez em quando gosto de escapar um pouco desse universo e me arrisco em outros gêneros, o que aconteceu quando li Suíte em Quatro Movimentos, um livro adulto, com uma escrita belíssima, mas que infelizmente não me fisgou.
A narrativa se divide em quatro partes, ou como o título sugere, em quatro movimentos, e cada uma delas vai focar em um determinado personagem que acaba se interligando com a narrativa "principal". Não que aqui haja uma narrativa principal ou um protagonista, e o genial na história está aí: você começa lendo e achando que determinada pessoa dentro da trama é o protagonista, mas aí surgem contextos que não dá mais para saber quem protagoniza e quem coadjuva o enredo.
A premissa que temos é de Mike Garth, um homem que vai jantar na casa de conhecidos de um homem que ele acabou de conhecer. É um pouco estranho? Talvez, mas quando se trata desse livro você perde toda a noção do que é estranho e do que não é. Enfim, Mike vai jantar na casa dessas pessoas e no meio do jantar ele se retira da mesa, sobe as escadas até o primeiro andar e se tranca em um quarto de hóspedes. Esse é o primeiro movimento da história e a partir dessa base a narrativa é construída. Os outros movimentos vão narrar a vida de outros personagens que se ligam em algum momento com a história de Mike.
A narrativa de Ali Smith é densa e por muitas vezes pegava o livro para ler e me cansava muito fácil, pois você precisa dar uma atenção maior ao que está acontecendo na trama, pois qualquer detalhe perdido pode fazer com que a leitura fique confusa e perca a essência. O terceiro movimento, onde encontramos a história de May Young, uma senhora muito peculiar, que tem toda uma carga de vida em seus ombros, me deixou muito confuso a príncipio, pois a autora faz um jogo entre passado e presente que não parecem se conectar, mas quando a história "se fecha", a personagem me tocou muito. É surpreendente.
A genialidade da autora encontra-se em sua escrita: Smith tece diálogos como poucos, ela trasmite uma delicadeza e ao mesmo tempo uma força nas falas dos personagens que fazem a história ganhar uma força surreal. A personagem Brooke, por exemplo, é uma criança que tem uma mentalidade absurdamente a frente da sua idade, mas que possui uma inocência que é perceptível e isso rende cenas fantásticas e diálogos muito bem construídos. O meu desejo era adotar a menina pra mim de tanto que a amei...
O quarto e último movimento é focando Brooke e é quando o que precisa se encaixar se encaixa, e o que não precisa, é deixado no ar. Gostei muito de como a autora fecha a trama, fazendo com que o leitor reflita um pouco sobre tudo o que acabou de ler.
Não há como negar a originalidade de Ali e sua maestria em escrever boas cenas. Talvez pelo fato de não estar acostumado com sua narrativa, tenha achado um pouco denso e complicado em algumas partes, mas quero muito conhecer outros trabalhos da autora, pois seus diálogos me deixaram encantado com tamanha grandiosidade. Adorei.
Autora: Ali Smith
Páginas: 288
Ano: 2014
Editora: Companhia das Letras
SINOPSE: Imagine a seguinte situação: você está dando um jantar e um amigo de uma amiga traz à sua casa um conhecido dele que você não conhece. Imagine que depois de comer o prato principal esse estranho suba as escadas, tranque-se no quarto de hóspedes e recuse-se a abrir a porta. Talvez você não consiga tirá-lo de lá por dias, semanas, meses. Talvez ele nunca mais saia da sua casa.
Dividido em quatro surpreendentes movimentos, o romance de Ali Smith se desenrola a partir da noite em que Miles Garth se tranca em um quarto de uma casa de uma família aristocrática de Greenwich, na Inglaterra, e passa a se comunicar com o mundo exterior passando bilhetes por debaixo da porta.
Uma narrativa carregada de ternura e ironia, que explora a linguagem em todas as suas possibilidades e põe em evidência o absurdo da existência humana.
Gostei do post!! a historia parece ser legal!
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