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11 de fevereiro de 2015

Suíte em Quatro Movimentos, Ali Smith

Os livros que eu mais leio como forma de entretenimento são, sem dúvida, os YAs. Mas de vez em quando gosto de escapar um pouco desse universo e me arrisco em outros gêneros, o que aconteceu quando li Suíte em Quatro Movimentos, um livro adulto, com uma escrita belíssima, mas que infelizmente não me fisgou.

A narrativa se divide em quatro partes, ou como o título sugere, em quatro movimentos, e cada uma delas vai focar em um determinado personagem que acaba se interligando com a narrativa "principal". Não que aqui haja uma narrativa principal ou um protagonista, e o genial na história está aí: você começa lendo e achando que determinada pessoa dentro da trama é o protagonista, mas aí surgem contextos que não dá mais para saber quem protagoniza e quem coadjuva o enredo.

A premissa que temos é de Mike Garth, um homem que vai jantar na casa de conhecidos de um homem que ele acabou de conhecer. É um pouco estranho? Talvez, mas quando se trata desse livro você perde toda a noção do que é estranho e do que não é. Enfim, Mike vai jantar na casa dessas pessoas e no meio do jantar ele se retira da mesa, sobe as escadas até o primeiro andar e se tranca em um quarto de hóspedes. Esse é o primeiro movimento da história e a partir dessa base a narrativa é construída. Os outros movimentos vão narrar a vida de outros personagens que se ligam em algum momento com a história de Mike.

A narrativa de Ali Smith é densa e por muitas vezes pegava o livro para ler e me cansava muito fácil, pois você precisa dar uma atenção maior ao que está acontecendo na trama, pois qualquer detalhe perdido pode fazer com que a leitura fique confusa e perca a essência. O terceiro movimento, onde encontramos a história de May Young, uma senhora muito peculiar, que tem toda uma carga de vida em seus ombros, me deixou muito confuso a príncipio, pois a autora faz um jogo entre passado e presente que não parecem se conectar, mas quando a história "se fecha", a personagem me tocou muito. É surpreendente.

A genialidade da autora encontra-se em sua escrita: Smith tece diálogos como poucos,  ela trasmite uma delicadeza e ao mesmo tempo uma força nas falas dos personagens que fazem a história ganhar uma força surreal. A personagem Brooke, por exemplo, é uma criança que tem uma mentalidade absurdamente a frente da sua idade, mas que possui uma inocência que é perceptível e isso rende cenas fantásticas e diálogos muito bem construídos. O meu desejo era adotar a menina pra mim de tanto que a amei...

O quarto e último movimento é focando Brooke e é quando o que precisa se encaixar se encaixa, e o que não precisa, é deixado no ar. Gostei muito de como a autora fecha a trama, fazendo com que o leitor reflita um pouco sobre tudo o que acabou de ler. 

Não há como negar a originalidade de Ali e sua maestria em escrever boas cenas. Talvez pelo fato de não estar acostumado com sua narrativa, tenha achado um pouco denso e complicado em algumas partes, mas quero muito conhecer outros trabalhos da autora, pois seus diálogos me deixaram encantado com tamanha grandiosidade. Adorei. 

Autora: Ali Smith
Páginas: 288
Ano: 2014
Editora: Companhia das Letras

SINOPSE: Imagine a seguinte situação: você está dando um jantar e um amigo de uma amiga traz à sua casa um conhecido dele que você não conhece. Imagine que depois de comer o prato principal esse estranho suba as escadas, tranque-se no quarto de hóspedes e recuse-se a abrir a porta. Talvez você não consiga tirá-lo de lá por dias, semanas, meses. Talvez ele nunca mais saia da sua casa. 
Dividido em quatro surpreendentes movimentos, o romance de Ali Smith se desenrola a partir da noite em que Miles Garth se tranca em um quarto de uma casa de uma família aristocrática de Greenwich, na Inglaterra, e passa a se comunicar com o mundo exterior passando bilhetes por debaixo da porta. 
Uma narrativa carregada de ternura e ironia, que explora a linguagem em todas as suas possibilidades e põe em evidência o absurdo da existência humana. 

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