Fernanda Torres tem um talento genético, tá na veia. Talento esse que se mostrou nos palcos, no cinema e na televisão. Tendo ganhado inúmeros prêmios e feito estômagos doerem de tanto rir com suas comédias, a maestria de Torres é inegável e inestimável. Surpreendeu a todos quando decidiu entrar no mundo literário e em 2013 lançou seu primeiro romance. Fim. Foi uma estreia digna (tem resenha minha lá no No Universo da Literatura, clique aqui e confira), que só uma pessoa com brilho próprio poderia ser capaz de fazer. Fernanda é Sol. Irradia luz por onde passa e contagia todos com seu calor e sua vivacidade. Foi por causa dessa luz que passei a admirar Fernanda Torres como uma artista completa. Foi isso que me fez ficar ansioso por Fim e ainda mais por Sete Anos, depois que constatei de fato seu talento como autora.
Sete Anos é um compilado de crônicas escritas e, a maioria, publicadas durante sete anos de sua vida. Uma curiosidade é que, enquanto lia a reportagem da revista Ler & Cia, na qual ela é a capa da edição de Janeiro/Fevereiro, descobri que Sete Anos era pra ter vindo antes de Fim, porém, sabemos que isso não aconteceu e só temos a agradecer essa mudança, já que tivemos uma experiência incrível adiantada em talvez muito tempo. Sorte a nossa.
Desde a primeira crônica, Kuarup, na qual ela retrata o tempo que passou no Alto do Xingu para as gravações do filme Kuarup, com comida e acomodações precárias, pude perceber que sua escrita estava diferente. Não pior, não melhor, mas diferente. Confesso que isso me deixou um pouco desconfortável e achei que o meu ritmo de leitura diminuiu por conta disso. A escrita estava mais rebuscada, cheia de referências e ironias que me assustaram no começo. Em algumas crônicas esse desconforto voltava a aparecer, principalmente quando era sobre um assunto que eu desconhecia ou não tinha interesse, mas eu me acostumei com a sua maneira diferente de narrar.
Desde a Playboy da Leila Diniz, passando pelas pornochanchadas, revivendo histórias de trabalhos, falando de política, fazendo uma análise sobre House of Cards (♥), homenageando amigos que brilharam aqui e hoje brilham em um outro plano, Fernanda passeia por diversos momentos de sua vida e em várias passagens me peguei rindo de suas tiradas e em outras me emocionando com suas palavras. Este livro mostra uma Fernanda Torres por ela mesma. Nua, crua, real. Como não se emocionar com a carga de emoções da crônica Despedida, onde ela relata os últimos momentos com seu pai, Fernando Torres, de uma forma tão sincera e tão nua, crua e real?
Daqui a um tempo, alguns anos talvez, relerei este livro. Talvez com uma carga cultural maior eu compreenda mais as referências e não fique tão desconfortável como fiquei em algumas das crônicas apresentadas aqui. Mas de uma coisa eu tenho certeza: Sete Anos não é nem de longe um livro fraco. Pelo contrário, é forte. Não há como ler essas crônicas sem aprender uma ou outra coisa com a autora. Isso é incrível.
Fernanda é um diamante. Tenho orgulho dela ser do Brasil e do Brasil ser da Fernanda. São mais joias assim que a literatura brasileira e o entretenimento precisam. E repetindo o que eu fiz no final da resenha de Fim, um grande salve a Fernanda Torres, essa gênia que ainda tem muito a acrescentar na nossa cultura. Amo demais!
Autora: Fernanda Torres
Páginas: 192
Ano: 2014
Editora: Companhia das Letras
SINOPSE: A entrada em cena de Fernanda Torres no mundo das letras foi apoteótica. Seu primeiro romance, Fim, lançado em novembro de 2013, cativou centenas de milhares de leitores pelo Brasil, atraiu a atenção e diversas editoras ao redor do mundo e ainda foi elogiado pelos críticos mais prestigiados do país. Era de esperar que suas crônicas não demorassem a sair. Desde 2007, Fernanda tem mantido assídua relação com a imprensa. Estreou na revista piauí, assumi uma página quinzenal na Veja Rio e em seguida uma coluna mensal na Folha de S.Paulo. Sete anos reúne parte dessa contribuição. São pensamentos divertidos e reveladores sobre cinema, teatro, política, família e assuntos do cotidiano. Há ainda um texto inédito: o pungente “Despedida”, que trata da morte de seu pai. Os leitores de seu romance e de suas colunas na imprensa, seu público na TV e no teatro, todos encontram neste livro o tom confessional, o carisma a inteligência aguda e o olhar irônico que fazem de Fernanda Torres uma das artistas mais brilhantes de nosso tempo.
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